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MERCADORES DO EVANGELHO


Estava eu lendo um artigo de autoria do Professor e Teólogo Gunar Berg, edição 35 da EETAD em Revista, e me deparei com algumas felizes e sábias colocações que cito abaixo:

                                                           “A História nos Reserva as raízes com os primórdios, com os primeiros propósitos. Por suas lentes enxergamos o início do ensino teológico, para concluir se temos razão ou perdemos as raízes”.
                                                           “A Educação teológica deve ser repensada sob a perspectiva do Cristianismo primitivo. No borbulhar do progresso surgem os mais variados subprodutos impostos – e pior, consumidos... Mas é longe do burburinho da ascensão da cultura evangélica que a simplicidade da fé se revela mais forte que tendências e mais conclusiva que sentenças. Não há ebulição que dure para sempre, e o reconhecimento dos homens passa, como passam os homens. Só uma coisa fica: a Palavra de Deus, que sobreviverá aos mesmos céus e terra que agora vemos”.

                Como o próprio autor das citações diz: vivemos dias efervescentes, o país cresce, o poder aquisitivo da massa é ampliado e as igrejas se multiplicam aos milhares.  Não mais a proeminência de igrejas com milhares de membros, mas, sim, milhares de igrejas com poucos membros. Existem também algumas igrejas, que por ética não vou mencionar nomes, que são multiplicadoras de igrejas.
Elas trazem o indivíduo da perdição, apostam nele, ministram uma educação teológica a ele e depois por qualquer motivo o descarta. O que ele faz? Vai e abre uma nova igreja. Pior são aqueles que procedem de um ensino teológico débil (pouco consistente) e saem por aí ensinando tudo que é absurdo ao povo, criando mil formas de legalismos e se beneficiando da simplicidade e pouca cultura da massa.

                Mas, o que desejo relevar neste artigo é expressar a minha visão e a abertura de um questionamento sobre que espécie de Cristianismo está sendo ensinado às pessoas. Ocupamos os nossos púlpitos para tudo: um excesso absurdo de música; palco para propaganda eleitoral; oportunidade para alguém contar de uma dor de barriga e uma visão; comentar sobre os eventos que ocorreram e que vão ocorrer; para enaltecer um ou outro homem pelos mais variados feitos; e o povo ali sedento por ouvir a Palavra de Deus, que geralmente reserva os minutos finais. Igualmente é o conteúdo: teologia da prosperidade, mensagem de vitória, sucesso, dinheiro, felicidade eterna... tudo para levar as pessoas à um êxtase emocional, e com isso ganhar a platéia. Dessa forma existem centenas de pregadores fazendo o maior sucesso; mas não nos esqueçamos que: “o reconhecimento dos homens passa, assim como passam os homens”.
               
                Precisamos mais que urgentemente olhar para o passado, para a pregação dos primeiros discípulos, aqueles que conheceram Jesus pessoalmente e a própria mensagem de Cristo. Largo é o caminho, estreita é a porta. Viver um evangelho facilitado não é a mensagem correta para estes tempos. Precisamos deixar de lado o alvoroço existente entre os evangélicos (esse modismo atemporal de ser evangélico), e anunciar um evangelho que nem sempre prega felicidade plena, mas que o caminho da santidade é muitas vezes duro, um caminho repleto de renúncias. Renunciar o mundo e suas atitudes que desagradam a Deus, atitudes que banalizam a fé, a família, o amor... Nossos pregadores estão pegando as pessoas carregadas, trabalhando a retirada de alguns vícios e pendurando em seus pescoços uma placa: “AGORA SOU CRENTE!”. Em 1ª João capítulo 2 e versículos 4 a 6 está escrito da seguinte forma: Aquele que diz: “Eu o conheço”, mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele. Mas, se alguém obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que estamos nele: aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou”. Não existe mais um ensino sobre a verdadeira conversão. Estamos fazendo as pessoas mentirosas, fazendo-as pensar que conhecem a Cristo, sem conhecê-lo de verdade. A religião está apenas preenchendo algumas fendas da alma. Onde estão aquelas vidas que deixavam tudo para seguir a Cristo? Deixava trabalho, amigos, familiares e relações sociais para seguir a Cristo em uma jornada totalmente nova. Lançava para o esquecimento a sua vida até ali e inaugurava um novo começo.

                Seria culpa da falta de pregadores de verdade? Por que não se anuncia mais o evangelho que os pais da igreja anunciavam? Seria o medo que os pregadores têm de dizer a frase: “você tem que deixar tudo por Cristo”? Temos o típico exemplo do jovem rico que Jesus propôs que distribuísse todos os seus bens aos pobres e o seguisse. Hoje paira o medo de perder o interesse da platéia, em que se apertar o caminho as pessoas corram; que suas igrejas não estejam mais lotadas e as arrecadações milionárias tenham uma baixa.
               
                A mensagem de Jesus conquistou multidões que o seguiam, mas não por apresentar um caminho fácil de trilhar, mas porque era (e sempre será) uma visão transformadora. A fé é simples e não precisa de qualquer aparato. Não precisaríamos ter dezenas de projetos missionários e evangelísticos dentro de nossas igrejas se o autêntico cristianismo fosse ensinado desde a infância espiritual de um indivíduo. Que já nascesse um evangelista e propagador das boas novas da paz. É preciso suplicar ao povo a participação em eventos com o objetivo de ganhar outros para Cristo. Hoje os crentes estão apenas espectadores dos shows que se tornaram nossas igrejas, não mais evangelizam, pois nem sequer passaram pela transformadora experiência da conversão. Não se ensina em nossos púlpitos o que é SALVAÇÃO. São apenas discursos de fachada.  

                Há um trabalho muito pesado com a temática “cura”. Milhares de testemunhos de curas, poucos testemunhos de salvação, vida nova. Muitos testemunhos de casa nova, carro novo (2, 3 ou 4), filho em faculdade no exterior, mas nada de seguir a Jesus. As pessoas ficam viciadas em correr a buscar ajuda de Deus, receber o que precisa pela bondade do Senhor, depois perder o interesse em servir a Jesus, perder tudo de novo, correr atrás novamente, receber, perder, receber... em um ciclo vicioso.  Desejam a benção de Deus, mas, não o Deus da bênção.
                 Como explicar o intensivo trabalho de libertação dentro das igrejas (para os crentes)? Libertação deveria ocorrer somente para os descrentes e escravos do inimigo de nossas almas. Não, hoje estamos trabalhando para libertar o lar dos cristãos da opressão satânica, porque não existiu antes ali uma transformação de vidas. Estamos sofrendo um retrabalho. Por isso a necessidade de olharmos para o nosso passado e não deixar que os erros cometidos nos tempos idos possam nos atingir hoje. Por exemplo, falando em política: quando esta invadiu a igreja, ou vice versa, e por consenso e interesses pessoais a igreja passou aos comandos de um império. Naquele tempo a anunciação de Jesus quase desapareceu. De perseguidos passamos aos tronos do império, a igreja se tornou rica e poderosa, apenas um teatro para encontros sociais. Hoje estamos caminhando na mesma direção, até que haja a necessidade de uma nova reforma espiritual. Que possamos nos acordar a tempo de evitar uma transformação pela dor.

                Igrejas faraônicas lotadas, muito dinheiro circulando, pregadores com cachês extraordinários, DVDs vendidos aos milhares. Só extraindo do povo, sem retorno. Enquanto isso os missionários passam necessidades pregando para os africanos, indianos, onde for... com ardor de levar mais algumas breves vidas para a eternidade salvos com Cristo, enquanto templos majestosos são erigidos aqui.

                Os cantores evangélicos, então, é moda. Participam de concursos de talentos da música brasileira e recebem conceituados prêmios musicais. Suas letras são conhecidas em todo o território nacional e não servem mais para louvar a Deus. Tornaram-se banalmente mais um estilo de música sem compromisso. Você tem na sua seleção Michel Teló, Shakira, Justin Bieber e Regis Danese, talvez Fernandinho também e tudo tranquilo, sem problemas, música que não gera responsabilidade com Deus; está na boca do povo, nas rádios, na mídia, no programa do Faustão, Gugu... não existe mais diferença em cantar e louvar a Deus. Os filhos dos evangélicos são levados à programas de TV para formar uma nova geração de astros da música gospel. Um plano astucioso para tornar comum aquilo que deveria ser incomum. Culpo da mente globalizada que vai erguer o anticristo e pisar com prazer na cabeça desses evangélicos nominais. 

                A forma com que praticamos o Cristianismo está na mesma direção do mundo, enquanto deveria estar na contramão. Nossas igrejas deveriam ser o exemplo máximo dentro da sociedade. Os evangélicos deveriam ser vistos como pessoas diferentes, desde o agir até o vestir, sem radicalizar, é claro.

                A chave da questão está nas mãos de nossos líderes espirituais. Eles detêm o poder de conduzir a massa. O povo precisa de um líder, de alguém que dê o grito inicial rumo a um ideal ou à fé. A realidade é que os usurpadores do evangelho de Cristo fazem desse trono de liderança o que bem entendem, fazendo de nós (indivíduos comuns) massa de manobra de seus interesses.

                Ainda existem sim pregadores que anunciam a Paz de Jesus, o Amor de Jesus, a Esperança de Jesus. Tudo de Jesus, não da igreja. Não é naquela determinada igreja que você vai encontrar a paz, nem dessa igreja vais reaver a esperança perdida pelas desilusões da vida. A transformação e o milagre vêm apenas de Jesus, flui através da igreja, mas não de uma em especial. Esse é o foco do autêntico e primitivo evangelho, sem placas ou denominações.
               
                Meu desejo ao amigo leitor é que não seja embebido por palavras bem elaboradas, nem por discursos emocionados, isso é serviço dos políticos e não de pastores e homens de Deus. Você precisa receber salvação; precisa aprender e compreender as Sagradas Escrituras; precisa saber como ser um cristão autêntico, ter uma conduta a imagem de Cristo e ser um represente de Deus aqui nas trevas deste mundo. Você precisa mais, mais, mais, corra atrás disso, aprenda a julgar por si próprio e não como partidário de Fulano ou Cicrano. Liberte a sua mente do legalismo religioso. Não acredite na primeira palavra do homem, inquira, tente saber mais. Só acredite na Palavra de Deus, ela não falha, ela denuncia o pecado, ela ensina a misericórdia, nos coloca nos eixos e nos aproxima do Altíssimo e Santo Deus.

                Questione o homem, mas não duvide de Deus, Ele tem todo o poder e quer te abençoar.

               
                Grande abraço, Deus te abençoe.


Alan Chiamenti Machado
Agosto de 2012
Autorizada Reprodução desde
que citado a fonte alchimac.com

Um comentário:

  1. Meu amigo Alan, cutucou forte aqui. Mas é tudo verdade. Nossas igrejas se transformaram em grandes mercados lucrativos.

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